Coisa estranha deve ser assistir o nascimento de um deus.
Não posso mesmo afirmar que tenha contemplado tal parto em minha curta memória.
A vida é longíssima, mas a memória não. É como se os seres fossem dotados de um
HD pequeno demais para armazenar todo o conteúdo acumulado de filmes, fotos,
jogos, etc.. Todas essas maluquices que fazem parte disso que chamam por aí de
vida e que, no fundo, também não se sabe exatamente do que se trata.
As circunstancias que precedem o nascimento de um deus são
estranhas. Lógico que não seriam de outro modo, afinal, o que pode ser mais
paradoxal que um deus. Para além de todas as mitologias ou definições de
especialistas, a singularidade da essência divina não está pautada em uma ou
mais definições, mas em uma simples constatação, basta apenas ao implicado
entender que se é um deus. Pronto, estão resolvidos todos os problemas.
Brincadeiras à parte, pelo contrário, é aí que começam, de
fato, os problemas. Um deus é, fundamentalmente, um criador. E quase
obrigatoriamente, quando nasce um deus, também nasce um novo universo. Isso
talvez vá te dar um nó no estomago, e me parece ser uma ótima definição do que
é o caos. Digamos que cada indivíduo é um deus em potência, para cada deus há
um universo de infinitas possibilidades, dentro de cada um destes universos,
existem mais indivíduos que são deuses em potência, e que também criam novos
universos, e assim infinitamente. O argumento não poderia ser mais velho, o
princípio de todas as coisas é exatamente o que é capaz de interromper esta
série, mas isso não nos interessa, mas sim tornar-me um deus.
Digamos que um deus nascituro conhece apenas seu próprio
nascimento, isso quando se dá conta daquilo que, de fato, se tornou. Sua tarefa
apenas começa, pois há que se criar, ou recriar tudo a sua volta. E aqui começa
nossa teogonia, o desenrolar de um novo universo que nasce.
Mas é estranho
considerar que esta tarefa não se completará de maneira linear. o nascimento de um Deus é paradoxal. Em tese, um Deus não nasce, Mas sempre
é. Portanto, o estranhamento que se
experimenta aqui deve-se ao fato de que este nascimento divino não vai
considerar a temporalidade como algo razoável, e quaisquer lacunas que se
pretenda preencher ao longo desse processo, deverão sim respeitar a
temporalidade, mas do tempo que é imposto por este Deus que agora nasce.